sexta-feira, março 31, 2006

Nunca se sabe

Ela falava-lhe do possível interesse que alguém tinha por ela. Notava-se nas suas palavras que esse possível interesse não era fluxo de um só sentido. Ele percebeu que ela procurava uma palavra orientadora. Ele sabia que não a podia dar. Ela continuou com um estou numa de levar as coisas com calma e recordou que se tinha precipitado na última vez em que tinha havido um alguém. Ele, nesse instante, deixou as palavras escorrerem pelos seus dedos em simplicidade de pensamento e disse-lhe não te posso dizer para ires com calma ou com pressa... nunca se sabe qual o melhor passo, qual o melhor ritmo, qual o melhor caminho... os teus sentimentos falarão no momento certo... e recomendações?! não as ouças nem as peças...

Pessoa

E, lentamente, percorro os corredores da minha mente. Olho... escuto... chamo... Nada! Ouço só o eco de mim. Este não sou eu... nunca fui.
Não sei quem sou... não sei o que faço aqui nem para onde vou. A única diferença é que cada vez menos quero saber... não quero saber... chateia-me saber... não sou, nunca fui isto.
Ânimo?... Esperança?... Amor?... Carinho?... Não... não sou eu. Não... não está reservado para mim. É constante a luta cá dentro. A Esperança contra o Desânimo... Também já pouco me importa o resultado.
Alegria? Vou rindo umas vezes... a maioria bem fingida... não tenho essa veia, mas vou sendo como o poeta. O poeta é um fingidor . Mente tão completamente . Que chega a fingir que é dor . A dor que deveras sente

quinta-feira, março 30, 2006

This heart is a stone

Foi realmente pouco tempo que eles estiveram em repeat. Os Acid House Kings com a bonita canção This Heart Is A Stone. Como é hábito fica aqui para quem quiser.



Conversas #02

- Então?! Sempre foste ao cinema?
- Fui.
- Ah...
- E tu? Sempre foste bombar?
- Não... tive que ir às compras com ela.

Conversas #01

- Então mas quem é que ele é?
- Achas que sei, menina!
- Podias saber...
- Pois... mas não sei.
- ...
- Mas parece haver ali qualquer coisa.

quarta-feira, março 29, 2006

Histórias da noite #02

Sentados sob a luz pálida daquele centro comercial, aqueles dois amigos deitavam conversa fora enquanto esperavam. Ela vira-se para ele e com um ar profundo declarou A minha vida dava um filme. Ele sorriu e não pôde deixar de lhe dizer Pelo que eu estou a ver era mais uma telenovela. Ela riu-se da piada fácil que ele tinha dito... mas ele continuou Já a minha dava um filme do Manoel de Oliveira. O riso dela subiu de tom ao mesmo tempo que os olhos perguntavam Porquê? e ele continuou Muito artístico... muito apreciado pela crítica e tal... mas muito parado... muito pouca acção. E riram-se os dois da boa disposição com que estavam nessa noite.

Casanova

Ontem fui ver o Casanova.
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Sim... é verdade. Eu ontem fui ao cinema. Ou será que alguém pensou que nesta conversa eu é que tinha dito que ia bombar enquanto dava o Benfica? Não... eu não bombei. Eu fui ao cinema... mas concordo que bombar é melhor que ir ao cinema.
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Só um parêntesis... Bombar não é um termo que eu empregue muito. Nem sequer é um termo que aprecie. Prefiro outros termos... mas foi o termo utilizado e eu gosto de me manter fiel à narrativa da história muito mais do que abusar da liberdade artística dada pela imaginação.
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Já agora... não sei o que se passava comigo ontem à noite, mas estava do mais divertido que tenho estado. Bem disposto! O sorriso e a piada saiam-me com facilidade. Vou ter que descobrir o que provocou (ou provoca) isto e pedir mais doses do mesmo.
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Mas este post era por causa do Casanova... o filme é fraco, a montagem é fraca, a história é fraca... é um blockbuster fraco.
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Mais um parêntesis... tem piada chamar um filme de blockbuster fraco. Isto porque o termo blockbuster era inicialmente usado para classificar aqueles filmes que rebentavam com todos os records de bilheteiras, normalmente por serem muito bons (mas também eram direccionados para as grandes massas). Hoje em dia, pelo menos para mim, um blockbuster é um daqueles filmes americanos que servem só para passar duas horas sentado numa sala escura. Produções holywoodescas sem jeito nenhum.
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Mas... sendo o filme fraco, o que é certo é que deu para arrancar algumas gargalhadas. E rir faz sempre bem! Por isso... se tiverem algum tempo para queimar e queiram rir um bocadito num filme que não faz trabalhar os neurónios então recomendo a ver.
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Claro que só fui ver este por causa das companhias e porque tenho o King Kard... assim é-me indiferente a quantidade de filmes que vejo.

terça-feira, março 28, 2006

Pasión

É de facto uma música lindíssima... mas também triste. E chega de tristezas. Para quando quiserem recordar ou quando quiserem ter uma noite de insónia é só vir aqui e ouvir.


Frases soltas #07

Existem 10 tipos de pessoas no mundo: aquelas que sabem código binário e as que não sabem.

Benfica

Sentados frente a frente aqueles dois colegas de trabalho almoçavam na companhia de outras pessoas. Entretanto a conversa gira em torno do Benfica e do jogo de logo à noite. Eu estou-me a cagar pró Benfica diz um. O outro responde Eu também! E o primeiro continua Eu até devo ir ao cinema esta noite. Ao que o outro lhe responde Eu cá vou bombar! O primeiro olha o outro com o habitual ar fingido de sério durante alguns segundos... em silêncio. E depois largaram-se à gargalhada e continuaram a falar... agora sobre os aumentos de Março.

Nuestras

Passei um dia bem disposto... é verdade.
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Mas sabia bem que era um erro quando decidi ligar o PC antes de me deitar. Ali... no meu blog... este blog... as minhas próprias palavras convidaram-me a errar. Want music? Press play! e eu carreguei. Escutei com prazer a belíssima música que tenho aqui. Sei... sei que ao longo da noite vai ecoar pelos meus sonhos as palavras Tristes breves nuestras vidas... e sei que será um sono sobressaltado sabendo claramente que quando ouvir nos meus sonhos abrazame esta noche será a parte mais difícil.
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É triste... mas sei agora que tenho de procurar outra música. Veremos o que se pode arranjar.

segunda-feira, março 27, 2006

Radical

Esta manhã, apesar de ameaçar chuva, saí de casa sem gabardine nem chapéu-de-chuva. Estou mesmo radical. Um dia destes até volto a frequentar festas estudantis.

No smoking

Quando estamos a tentar deixar de fumar não sabemos bem onde colocar as mãos... é nessas alturas que deviamos ter alguém ao nosso lado.

Tsotsi

É um filme extraordinário. Comovente. Bonito pela realidade crua que mostra. Não o deixem passar. Tsotsi ainda está nas salas de cinema.

Ah pois é! #03

Dasss... que hoje só me apetece escrever!

Entender

O que é que eu estou aqui a fazer? disse ele em voz alta no mesmo instante em que parou no meio das pessoas que dançavam. Tinha sido um pensamento que saiu em voz alta. Não era suposto ninguém ouvir. Imediatamente ouviu uma voz que se sobrepôs à música alta. O que é que disseste? o tom da voz era calmo, mas os olhos de quem falou deixavam entender que não tinha gostado do que tinha ouvido. Eu!? Eu não disse nada! respondeu ele. Disseste... perguntaste o que é que eu estou aqui a fazer. Sim, ela tinha ouvido bem. Ele não se recorda do que ela disse mais... mas ela deve ter-lhe explicado pois ele acabou por entender o que estava ali a fazer. Estava a divertir-se!

Erase and rewind

Pela primeira vez apaguei um post... um post que até estava bom. Mesmo bom até... mas tinha sido escrito numa manhã que correspondia a final de noite para mim. Sim... eram 7 da manhã, ainda não me tinha deitado e estava bêbado. Bem bêbado de muito alcool que consumi, mas também bêbado de contente por uma noite bem divertida que passei.
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O post não era justo e não correspondia à verdade... bom, parte dele não era verdade. Ao final do dia de domingo, na realidade, no próprio dia em que o escrevi, decidi retirá-lo.
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Isto tudo porque o álcool modifica a nossa percepção. E os exageros que eu, confesso, faço com insistência aos fins-de-semana levam-nos a ver as coisas com uma perspectiva diferente.
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O que é engraçado nestes estados alcoolicamente bem dispostos é as inibições que desaparecem... a conversa é mais fluida, o sorriso é mais fácil e estamos mais bem dispostos. Pelo menos eu estou!
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É muitas vezes nestes estados em que sou mais clarividente sobre a minha vida... e em que digo coisas que seriam impensáveis de sair caso estivesse são. In vino veritas... a verdade está no vinho. Velha expressão latina que nos diz que num estado ébrio as pessoas são mais sinceras, abrem-se mais, mostram-se mais... o problema destes estados é que também podemos ver as coisas de forma deturpada.
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O facto de não conseguirmos perceber o que é real do que é imaginação é o grande problema dos estados ébrios... pode levar a equívocos ou a conclusões precipitadas. Foi o que aconteceu nesse final de noite... e foi por isso que depois o post foi retirado.
Em tudo o resto... o estado é divertido, bom e recomendável. Desde que não se conduza!

Déjà vu #01

Eu sei que já disse isto centenas de vezes... mas aqui vai mais uma. Deixei de fumar!

sexta-feira, março 24, 2006

Ah pois é! #02

Preciso de um tema para escrever... apetece-me tanto escrever sobre alguma coisa! Mas nada me ocorre, pode ser que daqui a pouco surja qualquer coisa.

Ah pois é! #01

E é com prazer que digo que estou sem objectivos!

quinta-feira, março 23, 2006

A.A.N.

Acentuado arrefecimento nocturno... era uma expressão que gostava de ouvir nos boletins meteorológicos. Claro que estas expressões técnicas eram utilizadas por verdadeiros técnicos da meteorologia. Foram desaparecendo do quotidiano quando esses boletins começaram a ser apresentados por gajas boas que nada sabem do assunto. Mesmo nas novas fórmulas em que não há apresentador essa expressão parece ter desaparecido. Agora simplesmente aparece um mapa com temperaturas e umas nuvens com chuva ou sem ela ou então com sol.
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Acentuado arrefecimento nocturno... era mesmo uma expressão que soava de forma agradável ao meu ouvido. Era música bem ritmada.
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Acentuado arrefecimento nocturno... hoje em dia parece ter ocupado lugar permanente no meu boletim meteorológico.

quarta-feira, março 22, 2006

Reaction

Action... Reaction... ai... como eu gosto de reaction! Gosto pouco gosto!

Dose

E esta manhã a Radar deu-me dose dupla dos Blondie... ouvir um tema como o Denis, bem cedo a caminho do trabalho, deixa-me sempre bem disposto.

terça-feira, março 21, 2006

Príncipe

Com um sorriso ela chamou-lhe príncipe dos parágrafos... foi uma pequena provocação que ele achou piada e gostou bastante.
Nas horas seguintes as provocações continuaram... ele podia ser o príncipe dos parágrafos mas ela reinava nas provocações. Ainda assim ele gostou e, como bom súbdito, prestou-lhe vassalagem.

Primavera

A Primavera chegou hoje... no próximo fim-de-semana chega o horário de Verão. As coisas que se passam muito rapidamente confundem o meu espírito.

domingo, março 19, 2006

Stilwell

Era para publicar este texto na rúbrica habitual de Frases soltas... mas não vai ser assim. Isto porque este excerto é especial para mim. Encontrei-o há muitos anos... há mais de dez. Guardei o recorte durante muito tempo. Copiei para um papel e perdi esse papel. Perdi o recorte e voltei a encontrá-lo. Agora publico-o para não mais o perder... Este texto é uma definição... uma definição da minha pessoa. Não foi escrito a pensar em mim, mas cola perfeitamente na minha maneira de ser.
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As Virtudes da Timidez
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São os tímidos, os tímidos convictos, que têm a minha admiração. Não se impõem aos outros à força; quando falam, geralmente é porque têm qualquer coisa de importante para dizer, ouvem as nossas histórias até ao limite da paciência e são o ombro em que mais apetece chorar. Normalmente, são muito mais sábios porque perderam mais tempo a observar o que se passa à volta - e conseguiram fazê-lo sem serem notados. Mas, acima de tudo, têm um sorriso que os extrovertidos geralmente não têm. Não é frequente, e por isso tem muito mais graça e depois começa num canto da boca e vai-se transformando num sorriso só aos poucos e poucos. Uma grande vitória é quando conseguimos que deixem durante um bocadinho de ser tímidos, ou que deixem de ser tímidos connosco - não vale usar copos para os desinibir. Para ser especial, é preciso que o tímido se sinta tão seguro que seja mesmo ele proprio. Que fale dele e das coisas que o chateiam, faça aqueles comentários cínicos de quem afinou muito bem as palavras antes de as dizer. Os tímidos escusam de trazer flores ou presentes no dia de São Valentim. Basta aparecerem!
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in Noticias Magazine, Isabel Stilwell

Identidades

Já tinha reparado... e já me tinham dito.
A minha identidade era por vezes confundida com a de um outro blogger que tem um blog chamado esplanar.
Por esse facto decidi mudar o meu nickname para esplanando.

quinta-feira, março 16, 2006

Detonador

Há poucos dias, durante uma conversa, lembrei-me de uma pequena história que se passou há já uns anos atrás. Um pequeno episódio que ficou esquecido no fundo das memórias.
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Passou-se com a última namorada que tive. Uma mulher bela e desconcertante que era... tão desconcertante que a relação, a dada altura, não teve concerto nenhum e acabou. Acabou com dor... muita dor. Talvez por isso as memórias foram sendo empurradas para o fundo... as boas e as más.
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Esta é das boas...
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Estávamos numa festa... não me lembro bem. Talvez fosse uma festa ou uma saída mais vulgar. Sei que o sítio estava cheio de gente. Ela, como habitual, estava deslumbrante e naquela altura andava sempre bem disposta. Estava eu a conversar com alguém e vejo-a ao fundo também a conversar. Ela reparou que eu a olhava e viu-me a sorrir. Ela sorriu à distância e aproximou-se devagar com um ar inocente. Quando chegou ao pé de mim segredou-me ao ouvido num suspiro Fode-me! Perturbou-me... perturbou-me bastante! Não era habitual nela esse tipo de linguagem. E nunca pensei que fosse gostar tanto que ela me tivesse dito aquilo assim... assim, saído do nada.
Fiquei completamente doido... a única coisa que queria era sair dali e regressar a casa. Não descansei enquanto não arranjei forma de sair dali e cumprir o seu pedido.
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Uma simples palavra dita, inesperadamente, com um ar inocente e um sorriso angelical foi o suficiente para me deixar completamente doido e a rebentar de excitação. O curioso foi perceber que coisas ditas assim tem o seu quê de explosivo... mesmo para quem nunca pensou que pudesse ter.

quarta-feira, março 15, 2006

Frases soltas #06

"...o que se passe depois da morte importa-nos muito menos que o que geralmente se crê, a religião, senhor filósofo, é um assunto da terra, não tem nada que ver com o céu,..."
in, As Intermitências da Morte, José Saramago
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"A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem."
in, As Intermitências da Morte, José Saramago
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"Momentos de fraqueza na vida qualquer um os poderá ter, e, se hoje passámos sem eles, tenhamo-los por certos amanhã."
in, As Intermitências da Morte, José Saramago
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"...e apesar disso toca como se estivesse a despedir-se do mundo, a dizer por fim tudo quanto havia calado, os sonhos truncados, os anseios frustrados, a vida, enfim."
in, As Intermitências da Morte, José Saramago
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"...e quando já não tiverem mais nada que dizer ou quando as palavras começarem a ir por um lado e os pensamentos por outro, então se verá se algo poderá suceder que valha a pena recordar quando formos velhos."
in, As Intermitências da Morte, José Saramago
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"Aprende, pensava, aprende de uma vez, pedaço de estúpido, portaste-te como um perfeito imbecil, puseste os significados que desejavas em palavras que afinal de contas tinham outros sentidos, e mesmo esses não os conheces nem conhecerás, acreditaste em sorrisos que não passavam de meras e deliberadas contracções musculares, esqueceste-te de que levas quinhentos anos às costas apesar de caridosamente to haverem recordado, e agora eis-te aí, como um trapo, deitado na cama onde esperavas recebê-la, enquanto ela se está rindo da triste figura que fizeste e da tua incurável parvoíce."
in, As Intermitências da Morte, José Saramago

terça-feira, março 14, 2006

Descobertas

Quanto mais escrevo no blog mais me apercebo que não conheço assim tanto de mim... e, às vezes, é em momentos que estou a escrever que faço descobertas.
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Foi o caso do post Amargo. Comecei a escrever convencido que era uma pessoa amarga... à medida que fui escrevendo vi que esse termo não encaixava em mim. Percebi que tinha razão no sentido em que preciso de contrabalançar a minha vida com doçuras... que é verdade que não tenho muitas. Mas daí a ser amargo vai uma grande distância. Mas o post estava escrito e tinha de o publicar!
O sentimento que tive quando o terminei confirmou-se quando vi o comentário da amiga Zeni nesse próprio post. Pessoa que me conhece há quase 15 anos (Credo!!!! Já!?!?!?).
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Percebo claramente que tenho momentos de amargura... vejo em mim comentários a roçar o cinismo... mas não são cínicos. São irónicos polvilhados de muito humor negro e cozinhados com algum azeite. Este refogado tem sempre esse condimento... o humor, que embora negro não deixa de ser humor. Muitas vezes essas coisas que digo são mal interpretadas... mas é sempre preciso escutar ao som do humor. São afinadas ao longo de momentos infindáveis perdido nos meus pensamentos. Outras vezes saiem espontaneamente e até eu próprio me admiro com eles. São próprios de quem olha para a vida com algum desencanto mas que não deixa de ter esperança. São próprios de quem tem momentos bastante tristes mas que vai encolhendo os ombros e dizendo Já me estou a marimbar para o assunto. Ao menos que me vá divertindo!
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A vida dá-me limões e, ao contrário do que diz por aí uma frase bem conhecida, eu não faço limonada. Pego nos limões, corto uma rodela e faço um belo gin tónico.

segunda-feira, março 13, 2006

Amargo

Amargo... azedo... cínico...
Cheguei à conclusão que sou uma pessoa amarga. Será que é mesmo assim? Totalmente não será.
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Não é a idade que nos transforma em amargos ou em cínicos. É o trabalho! É o constante aturar de merdas, dia após dia.
As amarguras da vida, as tristezas, os cansaços vão-nos azedando... se não tivermos doçura para contrabalançar, a coisa fica mal. Fazemos comentários cínicos, olhamos a vida com algum azedume... por vezes reparamos nessas nossas atitudes e ficamos a pensar Onde e quando me tornei assim? Sim, porque nem sempre fomos assim e, mesmo agora, nem sempre somos assim.
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Doçura... coisas doces... mel... tudo isso é preciso para que os sorrisos saiam mais à vontade... com mais vontade. Reparo nas minhas inconstâncias. Na facilidade com que, com simples conversas, passo de um estado acre para um estado doce. Preocupa-me essas inconstâncias. Na maior facilidade com que acontecem hoje em dia. E depois... e depois é precisamente essas inconstâncias que me deixam animado e confiante. Pior seria se já não fosse capaz dessas mudanças. Dessas passagens de baixo para cima. Vejo perfeitamente que não sou amargo... que me basta momentos doces para mudar o meu estado de espírito da noite para o dia. Não!! Não sou amargo... basta juntar açucar e sou um doce.
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Este fim-de-semana foi doce... não porque tivesse açucar, não porque tivesse mel. Nada disso se passou. Foi, simplesmente, um fim-de-semana calmo. Calmo na cadência do tempo. O tempo passou devagar e suave. Suave como foi o tempo que esteve.
O tempo passou com temperatura amena, polvilhado de conversa suave, de deitar fora. Conversa com gente que vê a vida pelo seu lado doce... que pega na vida pelo seu lado leve. Pela leveza doce de quem sente que a vida ainda agora está a começar. Contactar com gente assim equilibra-nos. Nesses momentos sentimos que a alma não está tão escura.
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Pelos olhos de uns vemos a vida mais leve... pelas atitudes de outros temos vontade de viver mais intensamente.
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Conversas suaves com o tempo a passar... óptima forma de passar o fim-de-semana.
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Conversas doces de deixar tudo claro... expectante no que os tempos mais próximos nos irão trazer de doce. Tanto assim é que até sentimos um gosto mais doce na boca...

quarta-feira, março 08, 2006

Março

Se é Março, marçagão. De manhã inverno à tarde verão... então porque é que eu tenho saído de casa com um solzinho gostoso e regressado com o céu muito nublado?

Crash

Este post serve para fazer um update a algo que disse há poucos dias neste post. Desde segunda-feira que o último é o Colisão. É realmente magnífico. Acho que mereceu inteiramente o Óscar.
Não é que eu tenha ficado satisfeito que o filme vencesse a tão apetecida estatueta. Durante o fim-de-semana que antecedeu a cerimónia já tinha decidido ir ver esse filme nessa segunda. Quando soube vi logo que a sala iria estar cheia demais para o meu gosto. Mas valeu a pena... e a BSO... ui!... que espanto! Já cá canta no meu PC. Bendito seja o meu querido eMule.

Post anterior

Ao contrário do que muita gente pensou, o post anterior nada tinha a haver com a triologia plantar uma árvore, escrever um livro e fazer um filho. O post anterior é sobre uma árvore que cresce em minha casa, da minha vontade em vê-la crescer e de saber que contribuí com os meus actos para que brotasse vida naquele canteiro. É sobre a relação que criei... o compromisso que estabeleci com aquela jovem planta. É só!
Quanto à triologia... escrever um blog deve, nos dias de hoje, servir para o efeito. Quanto a fazer um filho... claro que é um desejo, mas já me contentava em ir praticando.

terça-feira, março 07, 2006

Crescer

Ameixas... eram ameixas! lembrei-me eu depois de muito pensar. Sabia que era fruta e que tinha caroço, mas não me lembrava o que era. Também era verdade que já tinha sido há muitos meses atrás. Passaram-se três dias desde o momento em que precisei de recordar o que era... mas só ontem, ao final da tarde, enquanto desfolhava uma revista vi numa página a mencionarem ameixas. Aí sorri e disse Ameixas... eram ameixas!
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Cheguei a pensar que eram pêssegos... mas não estava a ver a lógica. Não seria normal eu ter uma série de pêssegos em casa... muito menos tê-los comido numa tarde. Por isso não podiam ser pêssegos!
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Tinham de ser ameixas. Ameixas de uma árvore que nasceu sem que ninguém desse por isso no quintal da casa lá na santa terrinha. Cresceu e acompanhei o seu crescimento. Hoje é uma árvore grande... e quando dá fruta, são cestos e cestos de ameixas. Tantas que não dá para comer tudo.
Foi por isso que tinha várias em Lisboa. Os meus pais devem ter mandado um cesto delas Porque não se pode estragar disseram com toda a razão.
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Devia ser Junho ou Julho... acho que é nessa altura a época dessa fruta. Depois de ter comido várias de seguida peguei nos caroços e, quando estava para os mandar para o lixo, pensei E se eu fizesse uma coisa... Tinha lá por casa um canteiro, daqueles rectangulares de plástico, cheio de terra e sem nada de plantas. Ficou por lá desde as minhas experiências falhadas com plantas. Foram falhadas não porque nada tivesse nascido, mas sim porque nasceu demais. Não escolhi bem as sementes e tudo o que nasceu foi sem jeito. A casa encheu-se de mosquitos. Foi um desastre. Tive que destruir algum do matagal e deportar o resto para a santa terrinha. Lá por casa sobrou esse canteiro de terra sem nada e um vaso com alfazema.
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Pois então se bem o pensei, melhor o fiz. Peguei em seis desses caroços e enterrei-os. Não fazia ideia se era assim que se fazia. Nem me preocupava muito com isso. Aquele canteiro não iria ser mesmo utilizado por isso, não fazia mal nenhum em enterrar uns quantos caroços.
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Assim passou tempo... de vez em quando lembrava-me e punha alguma água. No início de Janeiro começaram a despontar algumas coisas verdes. Mas facilmente percebi que não era nada do que queria... simplesmente ervas daninhas.
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Mas esta sexta-feira que passou, quando cheguei a casa e fui fechar a persiana olhei... olhei e vi! Vi que algo diferente despontava. Aquilo não era uma erva. Aquilo é uma ameixeira a nascer. Foi um momento raro de felicidade. É claro que tenho ainda algumas dúvidas... nada percebo de plantas. Mas, no meu íntimo sei. Sei que é uma árvore. Uma árvore que eu semeei. Uma árvore que vou cuidar. Que irei a pouco e pouco transplantar para vasos maiores, até que possa chegar o momento em que a colocarei no seu sítio definitivo. E eu até tenho esse sítio... um pedaço de terra que é meu e que irá ter uma árvore semeada por mim... e vou querer vê-la a crescer.
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Uma vez perguntaram-me o que queria da vida... acho que ainda não sei bem. Mas naquele momento respondi Encontrar uma companheira, criar uma família e passar o tempo a ver as árvores a crescer. É mais ou menos isto que quero...
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Agora já posso ver uma árvore a crescer e é a primeira coisa que faço quando chego a casa... ir ver como está!
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Uma árvore... uma árvore cresce em minha casa... uma árvore cresce em mim.

domingo, março 05, 2006

Até lá...

Sentado em frente ao teclado penso... penso que quero escrever. Mas nada me ocorre. Quero espantar este vazio que me vai na alma. Mas é precisamente este vazio que me impede. Que me faz contemplar o ecrã vazio de letras, cheio de branco. Queria pintar este branco de pedacinhos escuros de formato reconhecível. Mas o branco, continua branco... e a alma, a alma continua escura. Várias ideias me ocorrem... ganham forma dentro de mim. Mas não consigo formar as palavras para as digitar. Tanto que não se diz por não se conseguir encontrar as palavras... bloqueios de mente. Ou será um bloqueio demente que me impede? Queria pintar imagens em letras... pintar cores vivas ou tristes. Não importa quais... o importante era pintar. Tenho a tela, até tenho os pincéis... mas falta-me as tintas que poderão dar as formas ao quadro. A inspiração depende da disposição? Deve ser isso... Melhores dias virão? Eu sei que sim... mas até lá, até lá estou assim. Sabendo claramente que amanhã, ao acordar, já poderei estar alegre e bem disposto, cheio de esperança na vida e com vontade de sorrir. Mas até lá... o até lá custa muito...

quinta-feira, março 02, 2006

Sábado de manhã #01

- Bom dia, meu filho!
- Então, minha mãe.
- Sabes que horas são?
- Não...
- São onze menos um quarto.
- Já!?!?
- Se calhar era melhor levantares-te.
- Se calhar era...
- Ias ler o jornal com o teu pai...
- Eu sei... vim cá para isso.
- Para ler o jornal?
- Não...
- Então?...
- Para passar a manhã com o papá... a ler o jornal.
- Ah...bom!
- Não percebo uma coisa...
- Diz...
- Ouve uma altura que conseguia sempre acordar cedo no sábado.
- Deitaste-te tarde...
- É verdade... mas nessa altura também me deitava.
- Ah...
- Agora não consigo...
- É porque andas a rejuvenescer.
- ...?
- Os mais velhos não precisam de dormir tanto.
- Por acaso ando a sentir-me mais novo...
- Isso é bom.
- Pronto vou-me levantar!
- Está bem... eu depois vou ter com vocês.

Carnaval

Nunca foi meu hábito brincar ao Carnaval. Mas este ano foi excepção... e ainda bem que assim foi porque me diverti bastante!
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Acho que a última vez que tinha colocado alguma espécie de fantasia foi por alturas em que andava na escola primária. Pelo menos não tenho recordação nenhuma mais recente.
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Este ano, meti um dia de férias na segunda e pude passar os quatro dias na santa terrinha. Quando estava a fazer a mala, antes de sair, decidi enfiar lá algumas coisas que trouxe de viagens que fiz. Pensei... just in case. Não fosse na própria noite de Carnaval querer vestir algo diferente e depois não ter e ficar com pena.
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Logo no início do fim-de-semana comecei a ver que a noite de Carnaval podia estar comprometida. As minhas principais companhias para sair não passariam essa noite lá. Uma no Porto... o outro em Lisboa. O caso apresentava-se difícil.
Mas este ano... este ano eu tinha vontade de sair. Já me tinham dito que essa noite era muito boa lá num determinado bar. E eu queria ir!
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No final da tarde de segunda tentei confirmar que pelo menos alguém que eu conhecesse bem iria. Sabia que ia encontrar muita gente que conheço por lá, mas uma coisa é encontrar gente que se conhece e com quem se troca umas palavras e outra coisa é saber que vamos encontrar gente de quem gostamos muito.
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Pois bem... no final da tarde lá troquei umas mensagens. Confirmou-se! Iam para lá. Bom! Assim já não me importo de ir. Mas havia um ligeiro problema... essas pessoas iam totalmente mascaradas e, para que ninguém soubesse quem eram, a ideia era encontrar-nos lá.
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Isto significava que teria de ir sozinho... no problem pensei eu. Mas se elas estavam mascaradas eu decidi dificultar-lhes a vida e mascarar-me também. Mal sabia eu que ia era dificultar a vida a mim próprio!
O que tinha enfiado na mala era uma camisa muito fina tunisina, um lenço estilo Arafat e um casacão marroquino muito grosso com um capuz. A ideia era ir com a camisa, o lenço e o casacão... quando tivesse calor tirava o casacão.
Mas ainda assim... a cara estaria descoberta. Tinha de arranjar uma forma. Fui a uma loja comprar uma daquelas máscaras que se enfiam totalmente na cabeça. Encontrei uma que se assemelhava a um velho árabe, com umas longas barbas brancas.
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À meia-noite lá rumei sozinho para o bar. Entrei completamente disfarçado... a máscara com as longas barbas, casacão marroquino e com o capuz enfiado. Vi várias caras conhecidas a olharem para mim sem me reconhecerem. Olhavam, sorriam e não esboçavam qualquer gesto de reconhecimento. Fiquei satisfeito! Estava irreconhecível como era minha intenção. Mas aí começaram os problemas...
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O calor dentro do bar era insuportável... o calor dentro de tudo o que levava era pior ainda. O calor dentro da máscara era indescritível.
Fui ao bar e pedi uma cerveja... gritei! Mas o barman não me conseguia ouvir. Por gestos lá consegui que ele percebesse. Com a cerveja na mão tive outro problema. Não a conseguia beber. A máscara tinha uma abertura para a boca... mas era impossível que a boca estivesse alinhada com a abertura. E quando conseguia, as barbas impediam qualquer tentativa.
As aberturas para os olhos estavam sempre a desalinhar-se com os próprios olhos... mas o pior não era isso! A respiração era complicada... e cada vez que expirava os óculos embaciavam completamente.
Ou seja... vi-me no meio do bar a respirar com dificuldade, a sentir um calor insuportável, a não ver quase nada à minha frente e a não conseguir sequer beber para sossegar a minha sede.
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Não aguentei... ao final de um quarto-de-hora tive que retirar a máscara. Aproveitei um momento em que estava perto de um amigo com quem já me tinha metido e ele tinha respondido Vai pró caralho! Quando retirei a máscara todo eu suava... e surpreendi as pessoas que conhecia e que estavam lá perto. Surpresa geral... é que também ninguém esperava que eu me mascarasse.
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Aí a noite melhorou... tirei o casacão e fiquei com a camisa fina tunisina e o lenço Arafat. Era o suficiente. Servia para o efeito.
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O resto da noite... foi passado a dançar, a falar com este e aquele. A divertir-me!
O curioso do Carnaval é que basta um pequeno disfarce para que nos sintamos dentro da festa... os que não tinham pareciam estar completamente à margem.
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Foi uma grande noite! Para o ano quero ver se me mascaro de forma a que ninguém me reconheça... mas também de forma a que o disfarce seja suportável!

quarta-feira, março 01, 2006

Sinais

Às vezes temos vontades e não sabemos bem o que fazer para as concretizar. É nessas alturas que procuramos dar sinais.

Histórias da noite #01

Como é que me reconheceste? perguntou ela. Foi difícil perceber a pergunta. O som da música estava alto e a máscara que ela trazia abafava os sons que saiam da sua boca. Ele aproximou-se e perguntou ao ouvido dela Diz?, ela repetiu a pergunta para ele lhe responder com um sorriso Isso agora! Reconheci! Ela voltou a dizer qualquer coisa imperceptível. Ele voltou a aproximar-se e conseguiu escutar Tenho um CD para ti. De quê?, perguntou ele. Carlos... e foi impossível ouvir o resto. Ele atirou Carlos Paredes? Não!, respondeu ela, Barreto!! Carlos Barreto!
Estás a beber demais, disse ela por trás da máscara que lhe escondia a cara e que não deixava perceber a expressão que fazia. Era impossível saber se o comentário era de desaprovação ou uma simples constatação. Não... é a segunda cerveja, respondeu ele sorrindo e sabendo que não enganava ninguém. De seguida perguntou Porque é que achas isso? e ela lançou-lhe um seco Porque estás a falar muito. Então ele viu-a a afastar-se e emaranhar-se no meio de todas as outras pessoas que dançavam.