domingo, setembro 30, 2007

Frases soltas #30

Começar. Foste tu que o disseste, Leitora. Mas como fixar o momento exacto em que começa uma história? Tudo começou sempre antes, a primeira linha da primeira página de todos os romances remete para alguma coisa que já aconteceu fora do livro. Ou então a verdadeira história é a que começa dez ou cem páginas mais à frente e tudo o que vem antes é só um prólogo. As vidas dos indivíduos da espécie humana formam um entrecho contínuo, em que todas as tentativas de isolar um pedaço de vivido que tenha um sentido separado do resto - por exemplo, o encontro de duas pessoas que será decisivo para ambas - deve ter em conta que cada um dos dois traz consigo um tecido de factos, ambientes, outras pessoas, e que do encontro derivarão por sua vez outras histórias que irão separar-se da sua história comum.
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in, Se numa noite de inverno um viajante, Italo Calvino

sexta-feira, setembro 28, 2007

Play me #31

Talvez não fosse a tua música preferida... estive para aqui a pensar o que gostavas e não fui capaz de me lembrar. Mas lembrei-me que no início da tua adolescência, ainda eu era criança, tu perdias-te com os álbuns dos Duran Duran. Nessa altura ainda eu não ligava nada a música. Teria uns oito ou nove anos... tu mais quatro do que eu. Começa a tocar aqui hoje, no dia em que farias trinta e oito anos. É um Play me #31... e trinta e um era a idade que eu tinha quando partiste. Aqui fica Hungry Like The Wolf que também se aplica a mim e é uma música que gosto e que a Radar já me deu duas ou três vezes a caminho do emprego antes das oito. Hungry Like The Wolf do álbum Rio que me lembro muito bem de o ver nas tuas mãos.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Conversas #13

- São sugestivos porque escondem mais do que mostram e, no entanto, fica-se com a sensação de que mostram mais do que escondem.

Irrelevâncias #01

Neste momento tenho noventa e três cêntimos na carteira, distribuídos por uma moeda de cinquenta cêntimos, uma de vinte, duas de dez, uma de dois e uma de um cêntimo. A de vinte é francesa, uma das de dez é espanhola e as restantes são portuguesas.
Foi um post irrelevante.

Road Map

Para memória futura... e antes que alguns dos papéis desapareçam e que a memória me traia.

20/8/2007
Lisboa - Santa terrinha

21/8/2007
Santa terrinha - Braga - Ponte de Lima - Valença do Minho - Tui - Baiona

22/8/2007
Baiona - Vigo - Paxon - Nigran - Baiona

23/8/2007
Baiona - Pontevedra - Sanxanxo - A Grove - A Toxa - Lanzada - Portonovo

24/8/2007
Portonovo - Cambados - Vila Garcia de Arousa - Padrón - Santiago

25/8/2007
Santiago

26/8/2007
Santiago

27/8/2007
Santiago - Noia - Muros - Ezaro - Corcubion - Estorde

28/8/2007
Estorde - Fisterra - Cee - Muxia - Camariñas - Laxe - Vimianzo - Estorde

29/8/2007
Estorde - Betanzos - Lugo

30/8/2007
Lugo

31/8/2007
Lugo - Oseira - Carbaliño - Ourense

01/9/2007
Ourense - Castrello do Miño - Ribadavia - Arnoia - Oia - La Guardia - Muiño

02/9/2007
Muiño

03/9/2007
Muiño - Nigran

04/9/2007
Nigran

05/9/2007
Nigran

06/9/2007
Nigran - La Guardia - Caminha - Praia do Moledo - Santa terrinha

07/9/2007
Santa terrinha - Lisboa

E com muitas paragens rápidas em cantinhos do qual não guardei o nome...

terça-feira, setembro 25, 2007

Pertencer

O fim de semana que passou foi mais um daqueles em que fui à santa terrinha. É um hábito que se repete, em média, de duas em duas semanas. O principal objectivo destas idas à terrinha é a de fazer companhia aos meus pais e passo quase todo o tempo com eles. Só mesmo no sábado à noite tento ver se se encontra alguém conhecido para ir beber um copo ao café do costume e dar dois dedos de conversa.
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Desta vez houve jantar. Jantar muito agradável numa tasca onde se come lindamente, onde se bebe melhor e onde se paga muito pouco. Na mesa estava amigos de longa data e mais recentes, simples conhecidos e também gente que desconheço completamente. As conversas acabaram por fluir ao ritmo do vinho e a noite foi boa até ali.
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Quando saimos fomos para o café habitual. Encontrei gente que conheço... aliás, praticamente conhecia a cara de toda as pessoas por ali. Cumprimentei alguns, disse olá a outros. Andei por ali um grande bocado da noite sem saber onde me sentar. Sentava-me num lado, levantava-me logo a seguir. De repente olhei em volta e vi que das três pessoas com quem cheguei e que me sentia mais à vontade, uma tinha desaparecido, outra estava num estado em que não dava para falar e também não me ligava nenhuma e mesmo assim tinha se trancado numa conversa muito privada com a terceira pessoa. Olhei à procura de referências. Todas aquelas caras eram-me familiares e, no entanto, aquelas figuras ecoavam estranhas aos meus olhos. Acabei por sair e ir para casa.
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Senti que já não pertencia ali. Claramente já não me revejo ali. O grande problema é E onde raio pertenço eu? Percebi que não pertenço a lado nenhum. Já não sou de lá e nunca fui de cá. É estranho... é uma sensação muito estranha. Não pertencer a nenhum lugar, não pertencer a ninguém.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Rapazes

Vou ao supermercado em busca de águas. Entro, vou caminhando entre as prateleiras e expositores. Na zona dos livros algo capta a minha atenção. Detenho-me, pego no livro e leio o título O Livro dos rapazes brilhantes. Sei que género de livro é e sei que é um bom livro para ter na prateleira. Abro o livro ao acaso e a primeira sugestão ou ideia que o livro me oferece aos olhos é Como deitar fogo aos peidos, fecho o livro e volto a colocá-lo no mesmo sítio enquanto penso Já deixei de ser um rapaz há muito tempo e acrescentei E também nunca quis ser brilhante. Quando peguei no pack de águas pensei para comigo Será que os rapazes assim serão brilhantes ou luminosos?

domingo, setembro 16, 2007

Acontece

Não sendo eu uma pessoa religiosa, é curioso que dois dos ditados que mais gosto metem essa estranha entidade que dizem responsável pela criação e regulação de tudo o que nos rodeia. Deus escreve direito por linhas tortas e Deus quando fecha uma porta abre uma janela. Gosto destes ditados e vejo-me muitas vezes a agarrar-me a eles para não perder a esperança. O que é certo é que, às vezes, tudo muda num pequeno instante e tudo se resolve num piscar de olhos... o importante mesmo é não perder a capacidade de sorrir. É como certas noites que começam com um pequeno lanche e um copo só para conversar e desabafar as mágoas, que se arrastam por ali num desfiar das tristezas que nos afligem, que continuam com o vislumbrar dos piores cenários... e, num repente, o lanche transforma-se num jantar a que se juntam mais amigos, em que se escolhe um restaurante ao acaso só porque se ouviu qualquer coisa sobre ele, em que se chega sem reserva e a sorte ditou haver mesa, em que o estilo irreverente do serviço nos surpreende e que acaba por se transformar numa das mais fantásticas experiências gastronómicas de que tenho memória. A noite foi brilhante em termos de sabores e fantástica pelo convívio e amizade que encheu aquela mesa. Durante aquele periodo foi como se os problemas tivessem recuado para dar lugar à capacidade de sorrir a bom gosto. E foi bom ver isso... os risos que se soltaram numa noite que até nem prometia por parte de um quarteto que carrega cargas bem pesadas. Umas mais pesadas do que outras, mas naquele momento conseguimos tirar esses pesos uns aos outros e passar uma noite leve. É assim... às vezes, num repente, acontece!

quinta-feira, setembro 13, 2007

Ena!

Ena!!! São tantas as fotos boas que vou ter de me organizar melhor... senão perco-me!!!

Agenda

Fazer coisas sozinho era para mim um sofrimento... provavelmente ainda é. Mas o que provei a mim próprio nesta viagem é que sou perfeitamente capaz de entrar num sítio e dizer Mesa para um! e responder com toda a naturalidade que sim à pergunta Está sozinho? Aliás, cheguei a responder como se o normal fosse estar só e que facto estranhíssimo seria estar acompanhado. Responder com um ar de espanto e dizer Claro! a perguntas de Está sozinho? deixava algumas pessoas desconcertadas.
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Há muita coisa para fazer, há muita coisa para experimentar! Cada vez que pego na Agenda Cultural de Lisboa sonho em percorrer aquilo tudo. Claro que não dá para fazer tudo, porque muitas das coisas tem preço e o orçamento não dá. Mas há muita coisa que se pode fazer... e se o constrangimento durante muito tempo era o de estar só, agora espero continuar com a coragem de ir, ver, experimentar e sentir mesmo que não apareça companhia.

terça-feira, setembro 11, 2007

Exostose

Nem tudo foi bom nesta viagem... trouxe de lá um problema no ouvido que me impediu de aproveitar a sério os dois ou três últimos dias de férias, nomeadamente com a ida ao Avante. E a situação estava a preocupar-me tanto que acabei por ir a um otorrino ontem.
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Pelos vistos tenho Exostose, e pelo que li aqui não é nada de grave. Até pode vir a dar muito jeito para utilizar como desculpa tipo Ah, disseste isso? Quando? Não ouvi... deve ter sido por causa da Exostose! O que é certo é que esse estreitamento do canal auditivo fez com que água que se alojou no ouvido tivesse dificuldades em sair. A permanência dessa água provocou um eczema e que, agora que está a ser tratado, deve desaparecer daqui a uns dias.
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Por isso, não tenham inveja de eu ter passado umas férias belíssimas, em locais fantásticos, com cidades lindas e praias deliciosas, comendo e bebendo do que me apetecia e que, muitas vezes, foi mesmo do bom e do melhor, de ter agora uma côr fantástica, de trazer fotografias maravilhosas e de ter passado as que foram, provavelmente, as melhores férias da minha vida... não tenham inveja disso porque eu tenho Exostose que vai fazer com que eu seja obrigado a fazer uma vida normal... com um ou outro cuidado.

domingo, setembro 09, 2007

Vamos lá

Arranquei naquela manhã muito cedo, talvez umas nove, queria seguir, partir o mais rapidamente possível antes que as forças faltassem e me impedissem de ir. Sabia que tinha de ser assim... acelerar para o mais longe possível de forma a dificultar o regresso. Planeado só estava o primeiro dia, e nem assim segui esse plano. Calculei mal os tempos de viagem e em vez de seguir directo à ponte centenária que me separava da Galiza acabei por fazer desvios e parar. Foi assim toda a viagem... um plano geral que se ia cumprindo ao sabor das vontades, das neuras, dos momentos, das temperaturas, dos gostos, do que ia vendo e palmilhando. Comia onde parecia ter bom aspecto, às vezes pensando no preço e outras vezes não pensando em nada. Entrei em sítios só por terem gente, noutros porque tinham um cantinho vago no balcão e noutros ainda por serem o primeiro que encontrei e a fome já apertava. Bebi a gosto e com muito gosto copas de Albariño, Ribeiro e Rioja. Bebi cañas à tarde e muitas botellas de água. Bebi quando tinha sede e bebi mais ainda quando queria espantar fantasmas. Bebi quando queria só apreciar o momento e una copa de branco era o melhor para acompanhar naquelas mesas e cadeiras de esplanadas em chão antigo e mirando torres de igrejas que deitavam sombras de História sobre quem passava. Fiz quilómetros em auto-estradas, vias rápidas, estradas normais, estradinhas vulgares onde há muito não passaria um carro português concerteza... e até em estrada batida andei. Dormi bem e dormi mal... repetiria uns sítios, evitaria outros. Acampei nas praias e nas cidades dormi em hoteis. Apanhei calor em Ourense e frio em Lugo. Nevoeiro em Fisterra e neura em Pontevedra. Calor e chuva em Santiago. Perdi-me em Vigo. Dormi sob um temporal medonho em Estorde. Apanhei dias de praia em Nigran como ninguém apanhou em todo o Agosto. Encantei-me com toda a Costa da Morte. Fiquei indeciso em La Guardia contemplando Portugal e voltei a embrenhar-me na Galiza por mais uns dias. Andei à minha vontade, às minhas ordens. Num posso, quero e mando absoluto. Fui ditador do meu destino não me subtraindo a nada que me apetecesse. Ocupei o tempo como podia... tirava fotos, comia e bebia. Passeava, andava a pé. Entrei nos sítios que encontrava. Fiz o que as chicas dos postos de turismo sugeriam. Quando algo já não tinha mais para oferecer então procurava el coche onde quer que o tinha deixado, pegava no mapa e dizia para comigo E agora para onde?, e lá encontrava algum sítio que o guia sugeria e dizia Vamos lá!

sábado, setembro 08, 2007

Play me #29

Uma das músicas que muito me alegrou nos quase 2.400 km que percorri durante a minha viagem foi esta que aqui fica. É retirada de um álbum que me foi oferecido há mais de um ano, talvez dois, e ao qual nunca tinha dado especial atenção. O álbum é uma compilação de música alternativa francesa e este Balle Populaire é muito engraçado. Não sou, de maneira nenhuma, um apreciador de rap ou hip-hop onde talvez esta música se insira, mas esta é de uma alegria contagiante. Foi a que mais passou durante a viagem. Aqui fica Balle Populaire dos Ministère des Affaires Populaires.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Diário

Seria fácil agora falar de tudo o que experimentei... seria fácil se tivesse mantido um diário de viagem. Esse diário começou a ser feito e até muito bem feito. Durou três dias... durou até chocar de frente com tudo o que Santiago tinha para me oferecer. Aí, nessas ruas centenárias povoadas de História e de histórias de gentes com sorrisos de felicidade por terem concluído o Camiño, aí foi difícil sentar e escrever... porque aí era para sentir o ambiente da rua, os cheiros, as caras, os sons, a vida... e era assim impossível perder tempo escrevendo o que via quando tudo o que via era para ser sentido e vivido naquele instante.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Galicia

A Galicia é linda. E eu, eu estou de volta. O que há a dizer? Só há a dizer que eu estou de volta. Por enquanto... pode ser que fale da Galicia, pode ser que não. Mas por enquanto, só tenho a dizer que estou de volta. Se foi bom? Bom não foi certamente. Mas extraordinário é a palavra não certa para descrever a Galicia. Não certa pela fraqueza da sua força. A Galicia é mais que extraordinária. A Galicia é a Galicia. Não tem explicação. E eu... eu estou de volta. Regresso a casa amanhã... hoje é na santa terrinha que vou dormir uma noite em boa cama. Já precisava.